segunda-feira, 28 de maio de 2012

POBRES ALUNOS, BRANCOS E POBRES

Entre as lembranças de minha vida, destaco a alegria de lecionar Português e Literatura no Instituto de Educação, no Rio. Começávamos nossa lida, pontualmente, às 7h15. Sala cheia, as alunas de blusa branca engomada, saia azul, cabelos arrumados. Eram jovens de todas as camadas. Filhas de profissionais liberais, de militares, de professores, de empresários, de modestíssimos comerciários e bancários. Elas compunham um quadro muito equilibrado. Negras, mulatas, bem escuras ou claras, judias, filhas de libaneses e turcos, algumas com ascendência japonesa e várias nortistas com a inconfundível mistura de sangue indígena. As brancas também eram diferentes. Umas tinham ares lusos, outras pareciam italianas. Enfim, um pequeno Brasil em cada sala. Todas estavam ali por mérito! O concurso para entrar no Instituto de Educação era famoso pelo rigor e pelo alto nível de exigências. Na verdade, era um concurso para a carreira de magistério do primeiro grau, com nomeação garantida ao fim dos sete anos. Nunca, jamais, em qualquer tempo, alguma delas teve esse direito, conseguido por mérito, contestado por conta da cor de sua pele! Essa estapafúrdia discriminação nunca passou pela cabeça de nenhum político, nem mesmo quando o País viveu os difíceis tempos do governo autoritário. Estes dias compareci aos festejos de uma de minhas turmas, numa linda missa na antiga Sé, já completamente restaurada e deslumbrante. Eram os 50 anos da formatura delas! Lá estavam as minhas normalistas, agora alegres senhoras, muitas vovós, algumas aposentadas, outras ainda não. Lá estavam elas, muito felizes. Lindas mulatas de olhos verdes. Brancas de cabelos pintados de louro. Negras elegantérrimas, esguias e belas. Judias com aquele ruivo típico. E as nortistas, com seu jeito de índias. Na minha opinião, as mais bem conservadas. Lá pelas tantas, a conversa recaiu sobre essa escandalosa mania de cotas raciais. Todas contra! Como experimentadas professoras, fizeram a análise certa. Estabelecer igualdade com base na cor da pele? A raiz do problema é bem outra. Onde é que já se viu isso? Se melhorassem de fato as condições de trabalho do ensino de primeiro e segundo graus na rede pública, ninguém estaria pleiteando esse absurdo. Uma das minhas alunas hoje é titular na Uerj. Outra é desembargadora. Várias são ainda diretoras de escola. Duas promotoras. As cores, muitas. As brancas não parecem arianas. Nem se pode dizer que todas as mulatas são negras. Afinal, o Brasil é assim. A nossa mestiçagem aconteceu. O País não tem dialetos, falamos todos a mesma língua. Não há repressão religiosa. A Constituição determina que todos são iguais perante a lei, sem distinção de nenhuma natureza! Portanto, é inconstitucional querer separar brasileiros pela cor da pele. Isso é racismo! E racismo é crime inafiançável e imprescritível. Perguntei: qual é o problema, então? É simples, mas é difícil. A população pobre do País não está tendo governos capazes de diminuir a distância econômica entre ela e os mais ricos. Com isso se instala a desigualdade na hora da largada. Os mais ricos estudam em colégios particulares caros. Fazem cursinhos caros. Passam nos vestibulares para as universidades públicas e estudam de graça, isto é, à custa dos impostos pagos pelos brasileiros, ricos e pobres. Os mais pobres estudam em escolas públicas, sempre tratadas como investimentos secundários, mal instaladas, mal equipadas, mal cuidadas, com magistério mal pago e sem estímulos. Quem viveu no governo Carlos Lacerda se lembra ainda de como o magistério público do ensino básico era bem considerado, respeitado e remunerado. Hoje, com a cidade do Rio de Janeiro devastada após a administração de Leonel Brizola, com suas favelas e seus moradores entregue são tráfico e à corrupção, e com a visão equivocada de que um sistema de ensino depende de prédios e de arquitetos, nunca a educação dos mais pobres caiu a um nível tão baixo. Achar que os únicos prejudicados por esta visão populista do processo educativo são os negros é uma farsa. Não é verdade. Todos os pobres são prejudicados: os brancos pobres, os negros pobres, os mulatos pobres, os judeus pobres, os índios pobres! Quem quiser sanar esta injustiça deve pensar na população pobre do País, não na cor da pele dos alunos. Tratem de investir de verdade no ensino público básico. Melhorar o nível do magistério. Retornar aos cursos normais. Acabar com essa história de exigir diploma de curso de Pedagogia para ensinar no primeiro grau. Pagar de forma justa aos professores, de acordo com o grau de dificuldades reais que eles têm de enfrentar para dar as suas aulas. Nada pode ser sovieticamente uniformizado. Não dá. Para aflição nossa, o projeto que o Senado vai discutir é um barbaridade do ponto de vista constitucional, além de errar o alvo. Se desejam que os alunos pobres, de todos os matizes, disputem em condições de igualdade com os ricos, melhorem a qualidade do ensino público. Economizem os gastos em propaganda. Cortem as mordomias federais, as estaduais e as municipais. Impeçam a corrupção. Invistam nos professores e nas escolas públicas de ensino básico. O exemplo do esporte está aí: já viram algum jovem atleta, corredor, negro ou não, bem alimentado, bem treinado e bem qualificado, precisar que lhe deem distâncias menores e coloquem a fita de chegada mais perto? É claro que não. É na largada que se consagra a igualdade. Os pobres precisam de igualdade de condições na largada. Foi isso o que as minhas normalistas me disseram na festa dos seus 50 anos de magistério! Com elas, foi assim. Autor: Sandra Cavalcanti, professora, jornalista, foi deputada federal constituinte, secretária de Serviços Sociais no governo Carlos Lacerda, fundou e presidiu o BNH no governo Castelo Branco. Disponível em: http://www.escolasmedicas.com.br/art_det.php?cod=248

domingo, 6 de maio de 2012

Repúdio às Pichações racistas

O Movimento Contra o Desvirtuamento do Espírito do Programa de Ações Afirmativas nas universidades, repudia qualquer espécie de ação racista. Nossa participação no julgamento da ADPF no STF, como amicus curiae, teve a intenção de defender uma terceira posição, com a tese de que a solução mais adequada para a Reserva de Vagas são as Cotas Socias. Embora também acreditemos que todos são iguais, conforme nossa Constituição, se as cotas fossem Cotas Sociais, beneficiariam todos os pobres, acabando de vez com essa situação dificil de estabelecer ou tentar definir raça, se existe raça etc., e principalmente atenderia os negros ou afro-descendentes(e todos aqueles que são pobres, independente de tonalidade da pele),pois é do conhecimento geral, segundo as estatísticas do IBGE, que grande parte dos negros brasileiros são pobres. Cotas Socias promoveriam, assim, a inclusão social pretendida pelas Políticas de Ação Afirmativa. Concordamos com alguns Ministros do STF, que aproveitaram o voto no julgamento para apresentar suas preocupações com a questão, conforme o voto do Ministro Gilmar Mendes: "Seria mais razoável adotar-se um critério objetivo de referência de índole socioeconômica. Todos podemos imaginar as distorções eventualmente involuntárias e eventuais de caráter voluntário a partir desse tribunal, que opera com quase nenhuma transparência. Se conferiu a um grupo de iluminados esse poder que ninguém quer ter de dizer quem é branco e quem é negro em uma sociedade altamente miscigenada."

Racistas aproveitam decisão do STF para pichar em Minas Gerais

Decisão do STF sobre cotas nas universidades divide internautas. A discussão voltou nesse domingo, quando uma loja em frente a UFMG foi pichada com dizeres racistas. A polêmica sobre as cotas raciais nas universidades reacendeu nesta terça-feira depois que as portas de uma concessionária de motos, em frente à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), na Pampulha, foi pichada com dizeres racistas. A frase,“A UFMG vai ficar preta” foi uma possível referência à discussão sobre a política de cotas raciais nas universidades, considerada constitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na semana passada. Na matéria sobre o fato publicada na manhã desta terça-feira pelo em.com, vários internautas deram opiniões divergentes sobre o assunto. A maioria condenou a pichação, porém houve discórdia em relação às cotas. “Sou negro e sou contra as tais cotas. Nesse país só se fazem leis para atender a interesses escusos. A qualidade na educação só despenca. É um sucateamento planejado. Se nós afrodescendentes somos desfavorecidos por questões econômicas deveriam intervir na economia, não acham?”, questionou José Gouveia. “O que o STF fez foi legalizar o racismo. Existe forma mais preconceituosa do que isso? A parcela da população favorecida será muito pequena. Deveriam criar boas condições de vida para todos e não guetos fantasiados de cotas”, disse Ricardo Scz. “O próprio STF que está fomentando a discriminação, pois existem casos de alunos negros ricos, que tomaram as vagas de brancos pobres! E a constituição diz que todos são iguais, o correto seria apresentar a declaração de imposto de renda da família e acima de tudo o conhecimento nas provas”, afirmou Márcio Messias. Houve também quem concordou com a decisão do STF. “Aos que dizem que o negro é menos inteligente que o branco, digo que sou negra, pobre e doutoranda na UFMG tendo competido com muitos brancos bem nascidos! Não precisei de cotas raciais, mas se na minha época elas existissem eu utilizaria, pois não são favor e sim direito a disputar entre iguais economicamente”, afirmou Juliana Assis. “Viva as cotas. Vestibular mede apenas um tipo de conhecimento, nem sempre necessário ao exercício da profissão, portanto, ao longo do curso o aluno passa por infinitas avaliações, se ele termina, logo, fica apto para trabalhar”, disse Geraldo Santos. As cotas raciais foram consideradas constitucionais por unanimidade pelo STF na última quinta-feira. Os 10 ministros – Dias Toffoli não participou do julgamento - deram o aval para que universidades brasileiras reservem vagas para negros e índios em seus processos seletivos e afirmaram que as ações afirmativas são necessárias para diminuir as desigualdades entre brancos e negros e para compensar uma dívida do passado, resultante de séculos de escravidão no Brasil. No caso específico julgado, o STF concluiu que a política de cotas estabelecida pela Universidade de Brasília (UnB) não viola a Constituição. Nota do Blog DesvirtuamentoUfrgs: O Movimento Contra o Desvirtuamento do Espírito do Programa de Ações Afirmativas nas universidades, repudia qualquer espécie de ação racista, embora também acredite que todos sejam iguais, conforme nossa Constituição, e que se as cotas fossem Cotas Sociais, elas beneficiariam todos os pobres, principalmente os negros,pois é do conhecimento geral que as estatísticas do IBGE apontam que grande parte dos negros brasileiros são pobres. Cotas Socias promoveriam, assim, a inclusão social pretendida pelas Políticas de Ação Afirmativa. Concordamos com o voto de alguns Ministros do STF, que se preocupam com a questão, conforme o Ministro Gilmar Mendes: "Seria mais razoável adotar-se um critério objetivo de referência de índole socioeconômica. Todos podemos imaginar as distorções eventualmente involuntárias e eventuais de caráter voluntário a partir desse tribunal, que opera com quase nenhuma transparência. Se conferiu a um grupo de iluminados esse poder que ninguém quer ter de dizer quem é branco e quem é negro em uma sociedade altamente miscigenada." Para ler as manifestações dos internautas sobre a matéria acima, publicada no Estado de Minas, acesse: http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2012/05/01/interna_gerais,291928/decisao-do-stf-sobre-cotas-nas-universidades-divide-internautas.shtml

sábado, 5 de maio de 2012

Ainda que tenha cursado o 1º e 2º anos do ensino médio em escola particular, estudante gaúcho consegue vaga na UFRGS

Notícias 4 maio 2012 Vaga reservada Cotista gaúcho ganha direito de se matricular na UFRGS Por Jomar Martins Em decisão inédita, a 3ª Turma do Tribunal Federal da 4ª Região concedeu liminar ao gaúcho Samuel Davila da Silva para reconhecer o direito dele se matricular na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) pelo sistema de cotas. É a primeira vitória judicial de um cotista negro na Justiça brasileira depois que o Supremo Tribunal Federal, há uma semana, deu o aval para que universidades brasileiras reservem vagas para negros e índios em seus processos seletivos. A UFRGS pode recorrer. A decisão do colegiado, que teve na relatoria o desembargador federal Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz, reformou entendimento de primeiro grau. O juiz Altair Antônio Gregório, da 6ª Vara da Justiça Federal de Porto Alegre, havia indeferido a matrícula do estudante. Assim como sustentava a UFRGS, o juiz entendeu que o estudante não poderia preencher a vaga porque estudou dois anos do ensino médio em colégio particular, mesmo com bolsa de estudos. Samuel foi aprovado no curso de Direito da UFRGS, durante o vestibular 2012. Ele se autodeclarou negro, pobre e estudante de escola pública em grande parte de sua trajetória escolar. No acórdão, o desembargador Lenz tomou como razões de decidir os argumentos de outro Agravo de Instrumento, com idêntico conteúdo. Ele explicou que o concurso vestibular ao qual o autor se submeteu previa reserva de 50% das vagas para os candidatos que tivessem cursado e concluído com êxito todas as séries do ensino médio regular ou equivalente, com exceção do candidato que tivesse recebido bolsa de estudos em escola privada. Esta norma objetiva, numa primeira análise, destacou ele, não se aplica ao autor. ‘‘Contudo, cabe examinar o escopo da norma contida do edital, introduzida no âmbito das ações afirmativas, qual seja, atuar na redução das desigualdades sociais, proporcionando o acesso à educação superior às classes menos privilegiadas. Nessa seara, examinando a vida escolar do impetrante, não é possível afirmar que não possui direito a ser incluído entre os denominados cotistas, tratando-se de aluno que estudou todo o ensino fundamental e quase a integralidade do ensino médio em escolas públicas. Escapa, assim, da finalidade da norma penalizar o agravante por ter conseguido obter bolsa de estudos para cursar tão-somente o 3º. ano do ensino médio em instituição privada, sendo certo que tal fato não o equiparou a disputar as demais vagas em igualdade com concorrentes do acesso universal, na sua maioria oriundos da rede privada.’’ Assim, adotando uma interpretação em conformidade com a finalidade da implementação das cotas sociais e de acordo com a razoabilidade, o relator entendeu pela concessão da liminar, em função do perigo de demora. Fins sociais O jovem foi defendido pela advogada gaúcha Wanda Siqueira, que participou, em Brasília, do julgamento no STF como amicus curiae, sustentando a tese do desvirtuamento do espírito do Programa de Ações Afirmativas nas universidades. A expressão latina significa ‘‘amigo da corte’’. ‘‘Neste caso, com a decisão do STF, o desvirtuamento acentuou-se ainda mais, por se tratar de aluno negro e pobre que estava impedido de fazer sua matrícula, porque o edital do Concurso Vestibular da UFRGS não atende os fins sociais a que se destina o programa’’, afirmou a advogada gaúcha. Para ela, os inúmeros chamamentos para matrícula sem qualquer transparência ferem o princípio da moralidade administrativa. ‘‘A decisão do STF fortalece a autonomia universitária e, ao mesmo tempo, recomenda aos agentes públicos a observância dos princípios da publicidade e moralidade’’, completou a advogada. Para ler a íntegra da liminar acesse:

Participação de advogada gaúcha no STF teve saldo positivo

A participação da advogada Wanda Siqueira no julgamento das cotas raciais teve um saldo positivo porque a tese do desvirtuamento foi reconhecida, conforme se lê no voto do ministro Gilmar Mendes. A partir de agora os critérios de seleção devem ser fiscalizados com rigor conforme entendimento dos Ministros. Leia trechos do voto do Ministro Gilmar Mendes: "Seria mais razoável adotar-se um critério objetivo de referência de índole socioeconômica. Todos podemos imaginar as distorções eventualmente involuntárias e eventuais de caráter voluntário a partir desse tribunal que opera com quase nenhuma transparência. Se conferiu a um grupo de iluminados esse poder que ninguém quer ter de dizer quem é branco e quem é negro em uma sociedade altamente miscigenada." (Gilmar Mendes, Ministro do STF).

Gaúcho ganha direito a cotas e pode se matricular na UFRGS

Estudante gaúcho é o primeiro, no Brasil, a ter o direito de se matricular em Universidade Federal depois do julgamento do Supremo Tribunal Federal, há uma semana, sobre constitucionalidade das cotas raciais. Nessa quarta-feira (2/05), o Desembargador Federal Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz, da 3ª Turma do TRF da 4ª Região ( Porto Alegre/RS) reformou decisão do Juiz Federal .que havia indeferido a matricula do estudante aprovado no curso de Direito da UFRGS , Samuel Davila da Silva, classificado no vestibular de 2012, auto declarado negro, pobre e estudante de escola pública na maioria dos anos do seu currículo escolar. O jovem foi defendido pela advogada gaúcha Wanda Siqueira, que participou, em Brasília, do julgamento no STF como ‘amicus curiae‘ sustentando a tese do desvirtuamento do espírito do Programa de Ações Afirmativas nas universidades. De acordo com seus critérios de seleção para cotistas, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul considerou que o estudante não poderia preencher a vaga porque estudou dois anos do ensino médio em colégio particular, mesmo que com bolsa de estudos. Tendo em vista os argumentos da advogada ‘as vagas devem ser preenchidas para beneficiar estudantes pobres, independente da escola que frequentaram, o juiz considerou que as normas das universidades devem ser razoáveis, ter critérios de bom senso e corrigir eventuais distorções. Neste caso o desvirtuamento acentuou-se ainda mais com a decisão do STF por tratar-se de aluno negro e pobre que estava impedido de fazer sua matrícula porque o edital do CV/UFRGS não atende os fins sociais a que se destina o programa. Os inúmeros chamamentos para matricula sem qualquer transparência ferem o princípio da moralidade administrativa. A decisão do STF fortalece a autonomia universitária e ao mesmo tempo recomenda aos agentes públicos a observância dos princípios da publicidade e moralidade. Para ler mais sobre o assunto acesse:

Advogada gaúcha se posiciona a favor das Cotas Sociais no STF

As duas primeiras entidades que participaram da sessão plenária desta quarta-feira (25/04/2012), no Supremo Tribunal Federal (STF), na condição de amigos da Corte (amici curiae) defenderam a extinção das cotas raciais nas universidades públicas. A primeira oradora, Juliana Corrêa, advogada do Movimento Pardo-Mestiço Brasileiro (MPMB), afirmou que o sistema de cotas raciais nas universidades prejudica os pardos e mestiços, que, segundo o Censo de 2010, representam 43% da população brasileira (82,2 milhões de pessoas). “Foi divulgado erroneamente que o Censo apontou que os negros são 50% da população, superando os brancos, que somam 47%, como se o Brasil fosse uma nação bicolor. Na verdade, a população é composta por apenas 7% de negros. Quem são os outros 43%? Os pardos e mestiços: mulatos (mistura de branco e negro), cafuzos (negro e índio), caboclos (índio e branco), mamelucos (branco com caboclo) e índios. Os pardos e mestiços não são negros”, disse. A advogada ressaltou que, para ser incluído no sistema de cota racial, o estudante deve se declarar negro. “Pardos e negros não são iguais. O estudante precisa negar sua própria identidade para conseguir o benefício. Isso não seria um genocídio racial, sumindo com 43% da população brasileira?”, questionou. A representante do MPMB argumentou ainda que a Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e a Intolerância Correlata, instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2001 na cidade de Durban (África do Sul), reconheceu a existência da população mestiça. “O que está em pauta é a extinção da etnia mestiça, que são mais de 80 milhões de brasileiros”, afirmou Juliana Corrêa. Movimento contra o desvirtuamento da política de cotas Em seguida, Wanda Maria Gomes Siqueira, representante do Movimento contra o Desvirtuamento do Espírito da Política de Ações Afirmativas nas Universidades Federais e do Instituto de Direito Público e Defesa Comunitária Popular (IDEP), defendeu critérios mensuráveis nas cotas paras as universidades públicas, como a faixa de renda e a utilização do programa Bolsa-Família. “Há necessidade sim de ações afirmativas, mas o Brasil é um país continental, com enormes diferenças regionais. Se o critério for a renda, os negros terão acesso à universidade. O problema brasileiro é a pobreza, e não a cor da pele”, sustentou. Na sua avaliação, as cotas raciais servem apenas a “interesses políticos”. Wanda assinalou que, em 2008, a Justiça do Rio Grande do Sul reconheceu o desvirtuamento das cotas. “Em uma faculdade gaúcha, foram reservadas 50% das vagas dos cursos de agronomia e veterinária para filhos de agricultores, mas o que se verificou foi que as vagas foram ocupadas por filhos de latifundiários”, exemplificou.

STF julga ADPF

O Supremo Tribunal Federal (STF) deve julgar nesta quarta-feira, 25, processos que definirão se o sistema de cotas raciais e sociais adotado por universidades brasileiras respeita ou não a Constituição. O novo presidente do STF, Carlos Ayres Britto, já se manifestou sobre o tema e defendeu a validade de ações afirmativas como mecanismo eficaz de combate às desigualdades. O julgamento iniciado em 2008 foi interrompido por um pedido de vista do ministro Joaquim Barbosa.Especialistas ligados ao movimento negro também divergem sobre a questão. Na primeira ação, o Democratas (DEM) questiona atos administrativos do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da UnB que estabeleceram critérios para ingresso na instituição por meio do sistema de reserva de vagas. Pelas regras, 20% das vagas oferecidas pela universidade devem ser garantidas a negros e pardos. A UnB foi a primeira instituição federal a adotar o sistema de cotas. A outra ação programada para ser julgada nesta quarta-feira é movida por um vestibulando que alega ter sido prejudicado por uma política afirmativa. Reprovado no vestibular para o curso de Administração da UFRGS, Giovane Pasqualito Fialho sustenta que, apesar de ter obtido pontuação superior à de outros candidatos, não conquistou uma vaga por causa da cota. Segundo ele, concorrentes com notas inferiores foram admitidos graças à política de reserva de vagas para alunos egressos de escolas públicas.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Expositor diz que cotas sociais é a solução para desigualdade de oportunidades no ensino superior


Advogado e membro do movimento negro contra o racismo e as discriminações, José Roberto Ferreira Militão é ativista por ações afirmativas e favorável ao investimento público em cotas sociais. Ao participar da audiência pública sobre política de cotas nas universidades, ele expôs que as universidades deveriam reservar pelo menos 50% das vagas a serem preenchidas pelo critério de rendas. Em sua breve apresentação, José Roberto pretendeu demonstrar que o Estado não pode outorgar uma identidade racial, sob pena de violar a dignidade humana dos brasileiros e dos afro-brasileiros, em especial. “O Estado não pode nos submeter aos velhos ideais do racismo”, disse. Para ele, as universidades deveriam ter políticas de ações afirmativas, além de separar verbas de seus orçamentos para custear cursos preparatórios dos jovens afrodescendentes “com deficiência da pobreza e da escola pública”. Militão entende que caberia ao Estado fazer investimentos subvencionando as Educafros [Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes] do Brasil inteiro para que os jovens afro-brasileiros se preparassem para competir em igualdade de condições. Ele lembrou a dicotomia entre iluminismo e racismo. “A ideia da igualdade trazida pelo iluminismo é que as pessoas seriam tratadas no mesmo plano e o racismo veio na mesma época se contrapor a isso”, disse, ressaltando que haveria uma hierarquia racial na qual a raça negra seria a base inferior. De acordo com Militão, deve ser verificado se a sociedade pode conviver com a classificação de raça, “se o brasileiro quer e precisa dessa classificação e se, conforme o conceito do racismo, os afro-brasileiros querem pertencer àquela que o racismo diz que é a raça inferior”. Dessa forma, ele entendeu caber ao Supremo decidir se todo esse procedimento é compatível com a dignidade humana, com a história e com a vontade popular e se tal opção renega a miscigenação ou o chamado mito da democracia racial.